O treinador desempenha uma função central no desenvolvimento do jovem atleta, do ponto de vista físico, psicológico, emocional e social (Campbell, 1998). Uma vez que, comunica com os praticantes das mais diversas formas: através do interesse que demonstra pelos problemas pessoais de cada um, da justiça e da igualdade de tratamento que caracterizam as suas acções dentro e fora do treino, do recurso oportuno ao humor e à zanga, da confiança que lhes transmite mais pelos seus actos do que pelas palavras, do modo como corrige os erros e aplaude os sucessos ou os esforços que os praticantes fazem para os conseguirem alcançar, regulando deste modo a criação de um ambiente de treino, ao mesmo tempo alegre e sério, descontraído e concentrado (Adelino et al., 2000).
O treinador é uma "Figura Central" de um vasto e complexo sistema de relações e de influências que compõe a actividade desportiva (Pacheco, 2001). Ele é o mais poderoso agente de socialização, pois constitui no desporto infanto-juvenil o elemento nuclear do processo desportivo e é instrumento determinante da sua transformação (Gonçalves, 2004; IDP, 2004).
Desta forma, as tarefas do treinador de jovens são um desafio permanente, aliciante e ao mesmo tempo recompensador. Trata-se de uma oportunidade de moldar as vidas de muitos jovens dos quais alguns poderão vir a chegar a ser campeões mas muitos outros nunca conseguirão viver esse momento (Campbell, 1998).
Por isso, Wooden (1988, citado por Araújo, 1998, p. 184), afirma que os jovens precisam de modelos, não de críticas.Uma vez que, a maioria das pessoas aprende melhor seguindo um bom exemplo, do que através das palavras que lhe sejam ditas sobre a maneira correcta de agir (Adelino et al., 2000).
Tal significa que os treinadores devem conduzir o seu processo de treino baseado no exemplo das suas acções e comportamentos, o que implica a necessária coerência entre o discurso pedagógico e a prática, ou seja, passa substancialmente pelo exemplo, fundamentalmente, da sua prática, pela maneira como agem nos momentos de tomarem decisões, pelo modo com se comportam face a determinadas situações, fazendo apelo às suas convicções e valores (Gonçalves, 2004).
O treinador terá assim de ser um bom exemplo e um bom modelo:
- Deve ser o primeiro a evitar a violência e a cultivar o Fair-Play;
- Não deve incentivar os seus jogadores a utilizarem truques, agressões, expressões negativas ou malcriadas;
- Deve assumir sempre a responsabilidade pelos seus actos e comportamentos pessoais;
- Deve estar permanentemente atento ao que se desenrola à sua volta, quer nos treinos quer nos jogos, ajustando rapidamente as suas decisões às situações que ocorram;
- Deve tomar decisões sempre a contento e a favor do colectivo, independentemente de colidirem com os interesses individuais de um ou outro dirigente ou pai;
- Deve estar sempre junto da equipa, independentemente dos prejuízos pessoais e de ordem familiar;
- Deve saber o que é valorizado muitas vezes, para os pais, dirigentes e público, são as vitórias, no entanto no futebol juvenil, tal situação não é a referência mais importante do sucesso.(Urbano, 2007)
Enquanto exemplo e modelo o treinador deve ainda transmitir, porque as pratica, as atitudes e comportamentos essenciais à aprendizagem e ao progresso:
- Assiduidade e Pontualidade;
- Gosto de aprender, saber fazer e fazer bem;
- Participação disciplinada nos treinos e competições;
- Empenho e persistência.(IDP, 2005; Urbano, 2007)
Assim sendo, o treinador, através de tudo aquilo que faz, educa e forma seres humanos, e constitui um modelo para todos aqueles com quem trabalha no dia a dia (Pacheco, 2001).
Pois, aquilo que o adulto diz e a maneira como ele age, irá determinar o comportamento do jovem, na medida que estes se encontram na fase de formação da sua personalidade e de aquisição de valores e referências determinantes para a sua vida futura (Campbell, 1998; Adelino et al., 2000; Pacheco, 2001).
O treinador nas suas relações com todos os que o rodeiam, deve ver a sua autoridade reconhecida, mais do que imposta (Araújo, 1998).
Deste modo, a determinação e empenho que o treinador coloca no seu trabalho com jovens, a seriedade e disciplina que exige durante a sessão de treino, não podem ser obstáculo a um tipo de relacionamento próximo e afectivo, em que o treinador procura interessar-se pelos problemas dos seus praticantes, manifestando gosto de conversar com eles e disponibilidade para abordar qualquer assunto (Adelino et al., 2000).
O educador de jovens deve ser moderado, tolerante e motivador, possuir conhecimentos de Futebol, mas que, para além disso, conheça as características dos jovens do seu escalão etário, por forma a que na sua intervenção pedagógica saiba o que deve ensinar, as exigências que pode colocar e aquilo que poderá vir a esperar dos seus atletas (Pacheco, 2001).
Pois, as suas funções ultrapassam substancialmente os aspectos relativos ao ensino da técnica e da táctica e ao desenvolvimento das suas qualidades físicas, abrangendo outras áreas não menos importantes, que podem condicionar o seu comportamento desportivo, mas de que é possível, igualmente, extrair reflexos para a sua vida de cidadão comum (Adelino et al., 2000; Gonçalves, 2004).
Referimo-nos as que se relacionam com as questões da ética, do espírito desportivo, da socialização das crianças e jovens (Gonçalves, 2004).
Ser treinador de jovens não se reduz apenas a intervir no ensino e aperfeiçoamento dos aspectos técnicos, tácticos, físicos e regulamentares de uma modalidade desportiva, mas envolve também, obrigatoriamente, a transmissão de atitudes, hábitos de trabalho e regras de comportamento e convivência que valorizem o jovem não só como praticante, mas simultaneamente, como indivíduo e cidadão (IDP, 2005).
O treinador deve assim, procurar contribuir para o crescimento dos seus atletas, enquanto atletas, mas sobretudo, como homens, Homens de valor e com valores (Mata, 2001, p. 2).
A prática desportiva deve assim constituir, para as crianças e jovens, um complemento importante da sua actividade escolar e não a sua ocupação ou centro de interesse exclusivo ou predominante (Adelino et al., 2000).
Segundo Adelino et al. (2000) e o IDP (2004), uma das responsabilidades do treinador é desenvolver no praticante o hábito de organizar o seu tempo, isto é, ensinar os jovens praticantes a articular de forma equilibrada, o horário escolar, o tempo de estudo, os treinos e as competições, o tempo livre e o repouso, permitindo assim, concretizar o potencial formativo e educativo do desporto juvenil. Ou seja, o treinador deve ajudar o praticante a organizar o seu regime de vida. Tendo em vista as exigências que hoje se colocam na preparação dos jovens que conseguem entrar no desporto de alto rendimento, eles precisam de ser ajudados a maximizar o seu tempo e nunca a sacrificar a sua educação ou as suas carreiras profissionais a fim de conseguirem ser "o melhor do que são capazes" (Campbell, 1998).
O treinador deve ter em conta que os resultados provenientes da sua intervenção têm profundos reflexos sociais pela influência educativa (ou deseducativa) que exercem nos jovens e nos adultos, quer sejam praticantes ou adeptos (Araújo, 1994).
Pois, mais e melhor formação escolar significam atletas melhor preparados para a vida extra-futebol, mas também melhor capacidade para entender o jogo e o processo de treino (Cardoso, 2008).
O papel do treinador nos escalões de formação será o de alimentar, apoiar e desenvolver todas as facetas das crianças no desempenho das suas tarefas e, acima de tudo, dar à prática desportiva um carácter de alegria e diversão (Campbell, 1998). Tendo como principal objectivo, contribuir para a formação adequada dos jovens, mas incentivando sempre o desejo e o gosto pela vitória, já que vencer é uma ambição de qualquer ser humano. Não se trata, contudo, de vencer a todo o custo, pondo em causa a formação dos jovens jogadores (Pacheco, 2001).
De seguida, apresentamos os objectivos específicos dos treinadores de jovens:
- Conhecer bem os jovens que treina, bem como as características das suas diferentes fases de desenvolvimento;
- Promover o seu desenvolvimento físico geral, de uma forma equilibrada e harmoniosa;
- Contribuir para o desenvolvimento das capacidades específicas (físicas, táctico-técnicas e psíquicas) do Futebol, de acordo com as capacidades e as necessidades dos jovens;
- Desenvolver o gosto e o hábito da prática desportiva regular;
- Orientar as expectativas dos jovens e dos seus familiares de uma forma realista;
- Garantir a aprendizagem e o aperfeiçoamento das técnicas básicas;
- Dirigir as suas acções, valorizando fundamentalmente o esforço e o progresso na aprendizagem, colocando em primeiro lugar os interesses dos atletas e só depois as vitórias da equipa.(Adelino et al., 2000; Pacheco, 2001)
É, pois importante ter-se consciência de que o conhecimento do significado e utilidade do que é ser treinador depende em grande parte da extensão e do nível de qualidade do seu desempenho (Urbano, 2007).
O sucesso de um treinador não se mede exclusivamente pelo número de vitórias ou derrotas que experimenta mas, sobretudo, pelos atributos que da sua acção resultam no desenvolvimento do sistema desportivo, das modalidades, dos atletas, dos outros treinadores, dirigentes e de todos os cidadãos em geral (Adelino et al., 1999).
Ser treinador de Futebol Infanto-Juvenil, é trabalhar sem relógio e ter todo o tempo disponível dedicado à formação dos jovens. É preciso ter paciência e perseverança, pois os frutos do trabalho desenvolvido só aparecerão a longo prazo (Ruiz, 1998, citado por Pacheco, 2001).
"Artigo retirado do site: www.academia-de-talentos.com "
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